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Eventos como a tempestade dessa semana resultam de combinação entre El Niño e mudança climática, dizem especialistas

19 de janeiro de 2024

/ by visao surubim

 Segundo o site https://gauchazh.clicrbs.com.br: Meteorologistas alertam para a ocorrência cada vez mais intensa e frequente de episódios de chuva e vento forte

Aumento da temperatura dos oceanos e da atmosfera cria condições para eventos mais intensos, como o que ocorreu em Porto Alegre                                                                                                                                                                                                                Mais uma vez, o Rio Grande do Sul foi afetado por intempéries, que inundaram cidades, derrubaram árvores e placas, além de deixarem milhares de pessoas sem luz e água desde terça-feira (16). O El Niño é um dos elementos que contribuem para explicar esses acontecimentos, conforme meteorologistas e climatologistas ouvidos por GZH. Contudo, há outro fator cada vez mais presente: as mudanças climáticas. A combinação dos dois converge para formação de eventos extremos registrados dos últimos meses.

Uma característica do El Niño – que gera o aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico – é a ocorrência de chuva acima da média no Sul e seca em outros Estados. O que não é característico, porém, é o volume que tem sido registrado – é aqui que entram as mudanças climáticas, explica Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo

O planeta passa por ciclos de aquecimento e resfriamento — desde 1950, ocorre um ciclo de aquecimento, potencializado por emissões de gases de efeito estufa. Cada vez mais, as mudanças climáticas intensificam extremos no mundo, frisa o meteorologista.

O aumento da temperatura dos oceanos e da atmosfera, nos últimos anos, cria condições para eventos mais intensos ou mais recorrentes no Sul do Brasil, conforme o climatologista, professor e chefe do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Francisco Aquino. Além disso, a chuva, nas últimas décadas, tem se associado a eventos concentrados ou extremos.

Quando os valores ficam muito acima da média, considera-se como extremo climático, conforme Guilherme Borges. A partir de 2010, esse cenário ficou mais claro, pois foi quando os extremos climáticos começaram a surgir, tornando tanto o calor quanto a chuva mais evidentes.

— A gente passa por um processo de mudança climática cada vez mais evidente, com extremos climáticos potencializados. Eles vão estar presentes na nossa vida ao longo dos próximos anos, não vão continuar em uma onda crescente de extremos, vão estabilizar, mas vão ser cada vez mais presentes — sustenta o meteorologista da Climatempo.

O papel do El Niño

Os fenômenos meteorológicos El Niño e La Niña (relacionado à chuva abaixo da média e à estiagem no RS) são modos de variabilidade climática naturais que atingem o planeta como um todo, explica a pesquisadora do Centro Polar e Climático da UFRGS, doutora em Geociências e climatologista Venisse Schossler. Do mesmo modo, a mudança climática também tem influência em todo o sistema.

— Quando a gente tem o El Niño e um aumento da temperatura da atmosfera, e, por consequência, um aumento da temperatura da superfície do mar também, vai ter um El Niño mais intenso. Vai estar mais quente ainda do que estaria. Quando tem mudanças climáticas e El Niño, os dois juntos andando lado a lado, o que acaba acontecendo são eventos mais intensos — destaca.

No ano passado, o Brasil registrou nove ondas de calor. Além disso, a Região Sul foi uma das mais afetadas pelo El Niño, com registros de chuva muito acima da média nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro. Enchentes históricas, que resultaram em mortes e deslizamentos, foram registradas no Estado.

A gente passa por um processo de mudança climática cada vez mais evidente, com extremos climáticos potencializados. Eles vão estar presentes na nossa vida ao longo dos próximos anos, não vão continuar em uma onda crescente de extremos, vão estabilizar, mas vão ser cada vez mais presentes.

GUILHERME BORGES

Meteorologista da Climatempo

— Setembro escancarou essa mudança pela qual nosso planeta passa, porque geralmente chove em torno 150mm no RS, e teve 650mm em muitas regiões. Foram valores significativos de chuva em quase todo o RS — avalia o meteorologista Guilherme Borges.

No mundo todo

Os eventos extremos, entretanto, acontecem no mundo todo – com registros de ondas de calor, chuva intensa e fortes nevascas, bem como temperaturas recordes. Além disso, o aquecimento global seguirá se intensificando nas próximas décadas, conforme o professor Francisco Aquino.

— A mudança climática nos encaminha para esse cenário de ondas de caloreventos extremos, estiagens no RS. A potencialização do El Niño ou La Niña no RS combina com isso — resume, ressaltando que isso aumenta ainda mais.

Tempestade na terça-feira

Além disso, o professor Francisco Aquino afirma que o registro de tempestades severas no verão pode ser considerado normal. Com o aumento da temperatura e as mudanças climáticas em curso, são esperados também verões com mais tempestades e chuva concentrada. O El Niño também gera e pode potencializar eventos extremos desse tipo. Assim, a chuva concentrada – como a que ocorreu na terça-feira – se tornou mais recorrente e é potencializada devido à mudança do clima no RS, somada ao El Niño.

Venisse Schossler ressalta que uma das características dessa associação entre os dois é a ocorrência de eventos como esse com maior frequência e intensidade. A pesquisadora destaca ainda o papel da oscilação antártica no acontecimento: na fase negativa, como nesta semana, permite a entrada de frentes frias, que favorecem a formação desses eventos.

— O verão tem se caracterizado por eventos intensos e destruidores quando há El Niño, como em 2016. Isso também deve começar a ser percebido em outras estações, com características um pouco diferentes — acrescenta Venisse.

El Niño perderá intensidade

O El Niño está em seu pico de intensidade desde dezembro. Segundo o meteorologista Guilherme Borges, o fenômeno começará a perder intensidade apenas em fevereiro. A tendência é de continue em atuação pelo menos até abril, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). De acordo com o professor Francisco Aquino, porém, o El Niño trará efeitos para o RS pelo menos até junho, julho e agosto, garantindo um aumento da temperatura média global e a intensificação de eventos adversos.

As projeções indicam que, a partir do segundo semestre, deve ocorrer a estabilização e, em seguida, a fase oposta – o La Niña, com a possibilidade do inverno começar um pouco mais cedo, segundo Borges.

Alertas

A pesquisadora Venisse Schossler reforça a importância de prestar atenção em previsões e alertas da Defesa Civil e de órgãos governamentais.

— A impressão que tive é que dessa vez não se fez nada, se deu o alerta e mais uma vez não se prestou atenção. Parece que é sempre a mesma coisa — afirma.

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