Segundo o site https://www.folhape.com.br/noticias: O independente Efecto Cocuyo almeja chamar atenção para tentativa de silenciamento realizada por Caracas e captar dinheiro para continuar atividades
O Efecto Cocuyo, um dos principais sites de notícias independente da Venezuela, lançou, neste domingo (4), 486 NFTs colecionáveis, um para cada dia da censura que sofre do regime de Nicolás Maduro. A iniciativa transforma em arte digital a mensagem mostrada aos usuários que são impedidos de acessar as notícias, em uma tentativa de chamar atenção para a situação e arrecadar dinheiro para que o trabalho independente possa continuar.Em um comunicado, o site afirmou que seu trabalho vem sendo comprometido há dois anos pelos bloqueios impostos pelo governo venezuelano, mais uma incidência da notória censura contra meios independentes. De acordo com a nota, a organização VE Sin Filtro — que desde 2014 monitora restrições na internet venezuelana — constatou o bloqueio do site nos principais Provedores de Serviços de Internet (ISPs, na sigla em inglês) do país.
"Os bloqueios começaram, de forma sistemática e frequente, entre 31 de janeiro de 2022 e 1º de fevereiro de 2022, com as primeiras medições da evidência de censura feitas à 0h40 da madrugada, hora venezuelana", diz o Efecto Cocuyo. "Essas restrições se somam a uma ampla lista de bloqueios da internet na Venezuela, incluindo mais de 35 sites de notícia nas eleições regionais de 2021.
Tais ordens de bloqueio, afirma o site, são implementadas por ordem do órgão regulador de telecomunicações — "processo que tipicamente ocorre sem ordem judicial, sem embasamento legal claro, sem transparência e violando os padrões internacionais de direitos humanos". Via de regra, são aplicados pela CANTV, a companhia de telecomunicações do Estado.
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No caso do Efecto Cocuyo, aderem aos bloqueios operadoras privadas como a Movistar, a Digitel, a Supercable e a Inter, fazendo com que os usuários que tentam acessar o site recebam uma mensagem de erro. Os NFTs serão imagens destas mensagens, representando o número total de dias desde que a censura começou até este domingo. Cada um custa o equivalente a US$ 190 (R$ 940). "Cada NFT é uma maneira de apoiar financeiramente o Efecto Cocuyo e inclui acesso a um arquivo baixável com as principais notícias publicadas pelo Efecto Cocuyo que foram afetadas pela censura", afirma o site.
O Efecto Cocuyo foi fundado em janeiro de 2015 por um grupo de mulheres jornalistas liderado por Josefina Ruggiero, Laura Weffer e Luz Mely Reyes. O objetivo do site é informar de forma livre e transparente em um país onde o trabalho da imprensa é cada vez mais cerceado.
O Efecto Cocuyo, por exemplo, noticiou a fundo a vinda de Maduro ao Brasil na semana passada para a cúpula com líderes latino-americanos — e as controversas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou a "narrativa antidemocrática" contra a Venezuela. Em uma de suas reportagens, o site disse que as críticas a Lula "vieram de todas as frentes após receber com honras e defender" Maduro.
"Parcialidade de Lula com Maduro o descarta como mediador de conflito político, dizem analistas", afirma a manchete de outra notícia da publicação, por exemplo. Imprensa sob ataque
No ranking anual da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) de 2023 sobre liberdade de imprensa, a Venezuela ocupa a 159ª de 180 posições, marcando 36,99 de 100 pontos possíveis. O lugar é o mesmo do ano passado. Na América Latina, perde apenas para Honduras e Cuba.
"Desde que chegou ao poder em 2013, Nicolás Maduro continuou com a política de 'hegemonia comunicacional que foi implementada por seu antecessor, Hugo Chávez", diz o site do RSF. "A Venezuela vive um prolongado ambiente restritivo no que diz respeito à informação, com políticas que ameaçam o exercício completo do jornalismo independente."
Medidas contra o livre trabalho da imprensa incluem o monopólio nas importações de papel e materiais de impressão, que cessaram a circulação de dezenas de jornais. Uma política pouco transparente para concessões de rádios, por sua vez, levou cerca de 200 emissoras a fecharem. Além do Efecto Cocuyo, outro veículos da imprensa independente venezuelana com frequência afetados pela censura incluem Radio Fe y Alegría, Unión Radio, El Estímulo e El Diário. O RSF denuncia também a inexistência de uma política compreensiva para proteger a liberdade de expressão em solo venezuelano, algo garantido no artigo 58 da Constituição do país. A situação é complicada por medidas como a Lei Anti-ódio que fez dezenas de cidadãos serem punidos e ameaçados inclusive pelo compartilhamento de postagens nas redes sociais.
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