Segundo o site https://www.folhape.com.br/noticias/mundo: Relatório da ONU apontou recordes históricos de emissões de gases de efeito estufa
Como será o mundo se as coisas continuarem sendo como são? Se metas e compromissos firmados não forem cumpridos? Por quanto tempo o planeta será habitável? Esses são questionamentos que podem gerar inúmeras reflexões e cujas respostas podem não ser tão imediatas. Mas,uma coisa é certa: como apontam cientistas e pesquisadores, as mudanças climáticas, caso não sejam vistas com a devida atenção, vão afetar, e muito, a vida das gerações futuras.No início do mês, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) revelou que as emissões globais médias de gases de efeito estufa bateram recorde e atingiram os níveis mais altos da história. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), as emissões aumentaram 12% entre 2010 e 2019, gerando 59 bilhões de toneladas de gases emitidos.
Caso as emissões sejam mantidas, afirma o documento, o aquecimento global médio pode chegar a 3,2 °C até 2100, mais que o dobro da meta prevista no Acordo de Paris, aprovado em 2015, que tem como um dos objetivos limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC.
Emissões globais médias de gases de efeito estufa bateram recorde - Foto: Pixabay O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que o planeta segue um caminho rápido para um desastre climático, que pode ter como consequências cidades debaixo d’água, ondas de calor sem precedentes, tempestades aterrorizantes e falta de água generalizada, além da extinção de um milhão de espécies de plantas e animais.Como explica o professor de Meteorologia Geber Barbosa, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o aquecimento é fruto de vários fatores. “O aquecimento global tem a ver com o aumento dos gases de efeito estufa, que são basicamente o gás carbônico, o metano. A poluição contribui e isso também está relacionado com indústrias pesadas e com as matas, as florestas, sendo queimadas”, disse.
É importante, acrescenta Barbosa, também pensar e agir em âmbito local, reduzindo, por exemplo, práticas nocivas a vegetações regionais: “Quando você vai para o Sertão, você percebe que já há um aumento de temperatura. Isso ocorre devido ao desmatamento daquela região e é muito importante proteger o solo”.
A longo prazo, uma das consequências das mudanças climáticas é o aumento das chuvas, com temporais de alta intensidade. “A gente já está sentindo esse efeito. A gente percebe, nos dados que a gente tem monitorado, que a quantidade de chuva acima de 100 milímetros está sendo mais frequente nesta década do que na década de 1960, por exemplo. Isso também está associado tanto a questões climáticas globais, como também a questões climáticas locais”, destacou Thiago do Vale, meteorologista da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac).
O aumento da temperatura, alerta o meteorologista, além de ampliar a frequência de chuvas mais intensas, pode também reduzir a quantidade de chuvas regulares, essenciais para a vegetação e abastecimento de reservatórios, e ocasionar estiagens mais duradouras.
“Você vai ter períodos mais longos sem chuva, mas quando tiver a possibilidade, elas serão chuvas com mais intensidade, então a gente não terá uma regularização. Isso vai fazer com que o Sertão fique mais árido, a gente tenha menos aporte de água, e quando tiver mais água essa chuva vai ser muito maior, o que pode causar mais erosões, o que vai fazer com que haja uma desertificação. E na região do Agreste, por exemplo, pode virar uma aridificação. Regiões do semiárido a tendência é ficarem mais secas, em alguns locais pode até virar deserto mesmo”, analisou.
Além disso, somando-se ao aumento da água nos rios e córregos, os alagamentos também podem ser agravados: “Quando a gente tem o aumento do nível do mar, junto com a maré alta e chuvas intensas, basicamente essas águas ficam armazenadas na cidade, causando alagamentos e interrupções”.
Apesar dos índices preocupantes, o relatório das Nações Unidas também trouxe dados positivos, como a desaceleração de 0,8% na emissão anual de gases, comparando as duas últimas décadas analisadas. Segundo o IPCC, a taxa de crescimento anual diminuiu, de uma média de 2,1%, entre 2000 e 2009, para 1,3%, entre 2010 e 2019.
O painel considera essencial uma ação célere para a mitigação dos impactos gerados pelas mudanças climáticas, favorecendo o desenvolvimento sustentável. Seria necessário, por exemplo, diminuir o desmatamento e investir em estratégias e tecnologias voltadas para a produção de energia verde, a partir de matrizes limpas e renováveis, como as energias solar e eólica.
De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (SEMAS-PE), o Estado pode se tornar o primeiro local do Brasil a desenvolver um modelo de comércio de energia renovável para carros elétricos. No mês passado, foi lançado o Programa Trilha Verde, aplicado em Fernando de Noronha, que inclui projeto de pesquisa com 18 carros elétricos, abastecidos a partir de duas novas usinas de energia solar na região.
Também é preciso atenção aos dois principais biomas presentes no Estado: Mata Atlântica, no litoral, e Caatinga, no interior. “A nossa região costeira tem uma das maiores densidades demográficas do País e a gente tem no interior uma situação de vulnerabilidade voltada ao risco de desertificação. É preocupante porque Pernambuco tem uma das menores disponibilidades hídricas do Brasil”, analisou Melo.
Segundo a SEMAS, o Estado vem adotando ações para diminuir os efeitos climáticos, como programas de reflorestamento e de manejo de uso do solo. Em março, durante a I Conferência Internacional de Resíduos Sólidos, sediada no Recife, o governo assumiu o compromisso de zerar a emissão de gases de efeito estufa até 2050 e lançou o Plano de Descarbonização, que integra o programa Pernambuco Carbono Neutro e prevê 12 medidas em quatro grandes setores: Energia e Indústria, Resíduos, Transporte e Agricultura.
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Como explicou a secretária, as mudanças em prol do equilíbrio ambiental devem favorecer, também, a economia e o desenvolvimento sustentável. “Quando a gente fala de sustentabilidade, estamos falando do viés ambiental, social e econômico. E todos os estudos apontam que uma política que trabalha na perspectiva da sustentabilidade nos ajuda na geração de emprego, de renda, de um bem-estar maior para a sociedade. As projeções apontam que a gente teria R$ 20 bilhões a mais na projeção do PIB de Pernambuco em 2050 num cenário de descarbonização”, informou.
A vice-prefeita do Recife, Isabella de Roldão, ressaltou que as ações de sustentabilidade devem ser prioritárias em todos os setores governamentais.
“É uma pauta transversal que passa por todas as secretarias, por todas as áreas, e eu digo sempre que a maior prova disso, da responsabilidade e do compromisso que a gente tem com essa pauta da sustentabilidade, é a Secretaria Executiva de Agricultura Urbana, que é uma pasta inédita aqui na nossa Cidade. A gente entende que nessa reconexão e nesse compromisso precisamos ampliar as áreas verdes e fazê-las produtivas, além das belezas que as plantas trazem, do apaziguamento da temperatura, mas tem também a questão de tornar áreas produtivas possíveis de serem cultivadas”, comentou.
A ampliação da malha cicloviária e o Jardim Botânico como espaço de conscientização, acrescenta Roldão, também fazem parte das ações implementadas. “A gente já conta com mais de 160 km de malha cicloviária, isso significa um aumento de quase 600% de 2013 para cá”, disse, frisando, também, o impacto econômico dessa ampliação.
“Imagine que antes de 2013 a gente tinha 20 km de ciclovia na cidade do Recife. Como é que era o mercado de bicicleta? E agora imagina hoje que a gente tem quase 200 km de ciclovia com todo o estímulo à bicicleta. Imagina o que é o que não é o mercado da bicicleta, do pequeno ao grande empreendedor.”
No início deste ano, Recife foi reconhecida pelas Nações Unidas como Nó de Resiliência, título concedido a cidades que demonstram compromisso em adotar medidas para enfrentamento dos riscos de desastres climáticos.
“Nosso desejo é que a partir da educação ambiental e da ampliação das nossas áreas verdes, a gente possa consolidar cada vez mais esse mercado de crédito de carbono e conscientizar de que todos os os nossos resíduos podem gerar lucro para aquela pequena, aquele pequeno empreendedor que trabalha com artesanato, refazendo e reformulando, reutilizando os nossos descartes”, disse.
Roldão destacou que a educação ambiental inicia em casa e nas escolas, sendo o Recife a primeira cidade no País a inserir o tema dentro do currículo escolar da rede municipal: “Desde 2019 que faz parte do currículo escolar essa disciplina de sustentabilidade e emergência climática”, completou.
“São muitas construções, entendendo que tudo isso está amparado pelo nosso Plano Local de Ação Climática, que baseia todas as nossas ações. Eu digo sempre que Recife será considerada a capital da sustentabilidade. Se nós já somos um hub consular, com mais de 40 consulados instalados na cidade, muito em breve nós seremos considerados um hub da sustentabilidade, porque os caminhos têm sido construídos a passos largos e seguros e a gente tem ampliado as discussões em prol dessa vida mais sustentável”, finalizou.
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