O período era de chuvas intensas com lavouras acumulando prejuízos na Região Central. Na manhã de 5 de janeiro de 2010, produtores rurais, entre eles o vice-prefeito de Agudo Hilberto Boecke, foram à ponte sobre Rio Jacuí, que ligava o município a Restinga Seca. A força das turvas águas fez com que cem metros da estrutura — de 314 metros de extensão — de concreto ruíssem. Além do político, 14 pessoas foram lançadas às águas revoltas. Cerca de cem profissionais do Corpo de bombeiros, Defesa Civil, Exército e Força Aérea foram mobilizados na operação de buscas. Boecke e quatro moradores morreram e outros 10 foram encontrados com vida.
Com a queda da estrutura, que é a principal ligação da Região Central à Capital, a travessia da RS-287 teve de ser deslocada para o rio pela balsa Deusa do Jacuí, que operou no local até o 3 de dezembro de 2010, quando a nova ponte foi inaugurada pela então governadora Yeda Crusius. A construção durou sete meses e custou R$ 53 milhões, tendo 423 metros, quase 110 metros a mais do que a antiga, que havia sido erguida em 1963. — É um assunto delicado, muito dolorido para nós. Recordar esses momentos nos machuca muito. A comunidade toda ficou abalada, triste, fora os prejuízos que tivemos na agricultura. Mas as perdas maiores foram as vidas dessas pessoas, entre elas a do meu vice. Ele morreu trabalhando pelo município. Causou muitos transtornos no trânsito também. Quem precisa passar por aqui sabe o quanto vale essa ponte aqui para toda a Região Central — recorda Ari Alves Anunciação, que era prefeito de Agudo à época.
Foram mais de mil toneladas de aço e 3 mil metros cúbicos de concreto utilizados na nova construção. A base da ponte foi fixada diretamente nas rochas abaixo do leito do rio e conta com estacas cravadas em profundidade de 25 metros. A nova ponte recebeu o nome de Travessia Hilberto Boeck, em homenagem ao vice-prefeito morto na tragédia. Ponte era a principal ligação da Região Central à Capital
Testemunhas
Quem viu a cena das toneladas de concreto sendo engolidas pelas caudalosas águas do Jacuí não esquece. Ainda mais as pessoas que desmoronaram com a estrutura e precisaram lutar nas águas para se manter vivo. É o caso do empresário Sérgio Goltz, hoje com 60 anos. Ele conseguiu se salvar ao se agarrar em uma árvore e depois em cabos de fibra ótica que passavam pela ponte.
— Estava há uns 15 metros da cabeceira da ponte. Vi ela na altura dos meus olhos, porque ela ladeou, foi quando cai. Tomei muita água, mas estava perto de um arbusto e me agarrei nele. Como tinha muita gente ali e a correnteza estava muito forte, achei melhor me segurar nessa cabo, que foi quando me puxei até perto da margem e depois sai nadando — conta. A viúva do prefeito Hilberto Boeck, Ledi Horber Boeck, 65 anos, foi com o marido até a ponte naquele dia. Enquanto ele se dirigiu até um trecho sobre a água, ela ficou um pouco antes da cabeceira conversando com amigos.
— Não era a minha hora. Fiquei conversando com os amigos e tudo foi muito rápido. Deu aquele estrondo e só vi as pessoas na água. Fui na beirada e vi o Beto se batendo na água. Aí fui pedir socorro — relembra Ledi.
Apesar de tanto tempo depois, Ledi diz que sempre que passa pelo local, que leva o nome do marido e é caminho para visita a irmã, em Restinga Seca, passa um filme pela cabeça:
— Não parece que fazem 10 anos. Foi muito difícil. E nessas datas, a gente sempre lembra mais ainda, faz falta a presença. Passo por ali e sempre vem a lembrança. Isso não vai se apagar. O Beto era uma pessoa muito boa, ajudava muito os outros.
Nenhum comentário
Postar um comentário