Ana Rosa (D), com a mãe Maria Luzimar Souza e o filhos Pemalla Crystinne, de 14 anos, e Isaac Daniel, de 2. Morando em área pobre, ela está desempregada e vive com R$ 445, do bolsa-família
Quarto colocado da América do Sul e 79º no ranking de 189 países, o Brasil teve um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,761 em 2018. Em relação a 2017, o país, considerado uma nação de alto desenvolvimento humano, teve um crescimento discreto de 0,001 ponto no IDH, o menor desde 2015. Mesmo com o aumento, o Brasil decresceu uma posição no ranking, passando do 78º para o 79º lugar, uma vez que outros países avançaram mais rápido. No entanto, o que preocupa especialistas é a desigualdade existente no país. Os dados, que serão divulgados hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mostram que o Brasil é a nação que mais perde posições no ranking mundial quando as desigualdades são levadas em conta. Se considerasse as desigualdades entre a população, o IDH brasileiro cairia de 0,761 para 0,574, uma perda de 24,5% que faria o país perder 23 posições no ranking mundial. Desde 2010, o Relatório de Desenvolvimento Humano calcula o IDH ajustado à desigualdade, que é analisada nas três dimensões do IDH: saúde (medida pela expectativa de vida), educação (medida pela média de anos de estudo e anos esperados de escolaridade) e padrão de vida (medida pela renda per capita). À medida que a desigualdade aumenta, a perda no desenvolvimento humano cresce. Como mostrou o Estado de Minas na reportagem “Brasil é vice-campeão em desigualdade no mundo”, publicada na edição de domingo, a concentração de renda aumentou, contribuindo para o aumento da desigualdade social.
O diretor do Relatório de Desenvolvimento Humano, Pedro Conceição, afirma que essa não é uma característica só do Brasil, mas da região. A perda média devido à desigualdade na América Latina e no Caribe é de 22,3%. “Não é uma surpresa. Sabemos que o nível de desigualdade, principalmente na distribuição da renda no Brasil, é inflado, mas, se olharmos para os últimos 15 anos, tem havido uma tendência de redução. O nível ainda é muito elevado, mas há essa tendência positiva”, disse ao EM.
A queda no ranking em si não é vista com preocupação pelos analistas do Pnud. “A posição do ranking depende não apenas daquilo que acontece no Brasil, mas também de outros países. Por isso, não atribuímos grande significado a elas”, explica Pedro Conceição. O diretor define o IDH do Brasil como “positivo, sólido e sustentável”. “O crescimento do índice no Brasil tem sido sustentado ao longo dos últimos anos e se manteve este ano, embora não tenha sido tão enfático como nos anos anteriores.
De acordo com Conceição, a situação da economia no país pode estar afetando o ritmo de evolução do IDH. Verificamos que quase não houve ganho no aspecto econômico”, disse. “A economia, que, a curto prazo, é aquilo que tende a mudar esse índice, não vem contribuindo. No entanto, à medida que começa a atingir patamares elevados, o IDH tende naturalmente a avançar mais devagar”, avalia.
A oficial do Pnud e chefe da Unidade de Desenvolvimento Humano, Betina Ferraz Barbosa, diz que o relatório pode ser um novo marco no olhar para o desenvolvimento brasileiro. “A gente pode caminhar para ter o IDH muito alto, mas a questão é resolver as nossas questões de desenvolvimento”, avalia Betina. Segundo ela, o documento traz uma nova estrutura, que pretende fazer uma nova análise ao olhar além da renda, do momento e das médias estatísticas.
Conceição acredita que o documento abre novas janelas para a discussão das desigualdades no desenvolvimento do país. “Esse relatório pode ser um convite à sociedade e às autoridades brasileiras para fazer uma reflexão em torno da emergência de novas desigualdades, que é uma tendência que nós verificamos”, pontua.
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